"E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus.
E havia entre eles alguns homens cíprios e cirenenses, os quais entrando em Antioquia falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus.
E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor.
E chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia.
O qual, quando chegou, e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortou a todos a que permanecessem no Senhor, com propósito de coração".
Atos 11: 19-23
Fenícia, Chipre e Antioquia, três regiões que se tornaram alvo do trabalho missionário de um grupo de seguidores de Cristo forasteiros de Jerusalém, vítimas de uma forte "perseguição que sucedeu por causa de Estêvão".E a mão do Senhor era com eles; e grande número creu e se converteu ao Senhor.
E chegou a fama destas coisas aos ouvidos da igreja que estava em Jerusalém; e enviaram Barnabé a Antioquia.
O qual, quando chegou, e viu a graça de Deus, se alegrou, e exortou a todos a que permanecessem no Senhor, com propósito de coração".
Atos 11: 19-23
Os fenícios erguiam altares nas partes mais altas de suas cidades para sacrificar pequenos animais em oferenda aos deuses, devidamente relatados na Bíblia. Esses deuses representavam fenômenos da Natureza: Dagon representava os rios e anunciava as chuvas: Baal era o deus das alturas, tempestades e raios: Ayan e Anat, filhos de Baal, representavam as águas subterrâneas e a guerra, respectivamente. Os fenícios tinham deuses comuns, embora com nomes diferentes em cada local; por exemplo, na cidade de Tiro, Baal era denominado Melqart. Assim dizendo, podemos afirmar que os Fenícios eram politeístas, ou seja, acreditavam em vários deuses. Existiam rituais sangrentos e cultos realizados ao ar livre. Tinha a prática de magia, e os habitantes da Fenícia acreditavam em maus-espíritos, bons-espíritos, dentre outras coisas.
Flávio Josefo descreve Antioquia como tendo sido a terceira maior cidade do império e também do mundo, com uma população estimada em mais de meio milhão de habitantes, depois de Roma e Alexandria. Cresceu a ponto de se tornar o principal centro comercial e indústrial da Síria Romana. Era considerada como a porta para o Oriente. César, Augusto e Tibério utilizavam-na como centro de operações. Era também chamada de "Antioquia, a bela", "rainha do Oriente", devido as riquezas romanas que a embelezavam, desde a estética grega até o luxo oriental.
Todavia, era também uma das mais sórdidas e depravadas cidades do mundo, como todas as grandes metrópoles da época. O culto à deusa Astarote pelas mulheres da cidade de Antioquia era tão indecente que Constantino o aboliu mediante o uso da força. A maioria da população era síria (gentios), embora houvesse numerosa colônia judaica.Dessas três comunidades, somente a Ilha de Chipre tinha uma forte influência dos judeus, sendo portanto, a menos depravada e distante de Deus. Uma grande, bela e fértil ilha do mar Mediterrâneo - era a terra natal de Barnabé (At 4.36) - cedo recebeu o Evangelho e mandou evangelistas a diversos lugares (At 11.19, 20 e 21.16) - foi visitada por Paulo e Barnabé na sua primeira viagem missionária (At 13.4 a 13) - Barnabé a visitou de novo (At 15.39) - Paulo passou ao sul de Chipre por volta da sua terceira viagem missionária (At 21.3) - e quando ia para Roma, por ali navegou outra vez (At 27.4). A ilha de Chipre tornou-se célebre pelas suas minas de cobre, que em certa ocasião foram arrendadas a Herodes, o Grande. Um notável fato da sua história foi a terrível insurreição dos judeus, no reinado do imperador Trajano (117 d.C.), trazendo isso em resultado a mortandade dos habitantes gregos em primeiro lugar, e depois dos próprios insurgentes.
Porém, mesmo diante das alarmantes necessidades espirituais, principalmente de Fenícia e Antioquia, aqueles crentes de Atos 11:19 não anunciou "a ninguém a palavra, senão somente aos judeus". Quando lemos o início do versículo 19 deste texto imaginamos a bravura daqueles irmãos evangelizando em terras getílicas, distantes, no auge da perseguição judaica. Que sacrifício, que coragem! Todavia, a tradição judaica só permitiu que esses bravos missionários evangelizassem somente seus compatriotas, os judeus. O Antigo Testamento proibia as relações com povos de outras nações. Embora a recomendação fosse para que não praticassem suas obras, os judeus preferiram considerarem-se superiores às demais nações evitando até entrar em suas casas. Pedro, um dos maiores expoentes da Igreja Primitiva, no capítulo 10 de Atos recebe uma visão onde Deus queria mostrar-lhe a sua misericórdia para os gentios. Após relutar diante do Senhor, Pedro entra na casa de Cornélio, um gentio temente, resultando na conversão deste e dos da sua casa (At. 10:44, 45). Este fato chegou aos ouvidos da Igreja na Judéia e o irmão Pedro teve que justificar-se diante dos judeus da ala conservadora, "os judeus da circuncisão" (At. 11: 1, 2).
Imagino que agora, esses irmãos heróis do capítulo 11 versículo 19, tem em mente o seguinte: "Bom, se Pedro, uma das lideranças da Igreja, teve que justificar-se diante dos demais líderes, porque nós quebraremos a tradição, pregando e entrando em casa de gentios?". Embora saibamos que naquelas alturas era perigoso expor-se diante da perseguição levantada contra eles. Mas esta não era a razão principal, pois, "havia entre eles alguns homens cíprios e cirenenses, os quais entrando em Antioquia falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus" versículo 20.
Entre esses missionários haviam cíprios e cirenenses que ao chegar naquela região, sentiram-se na obrigação de anunciar a Palavra aos seus compatriotas. Aí o mandamento bíblico (At.1:8), teve que falar mais alto qua a tradição! Aquela atitude foi extraordinária! O mandamento de pregar à todas as nações agora falou mais alto que a tradição. Quantas vezes deixamos ser dominados pela tradição a ponto de não avançarmos em Missões? E aí se faz necessário observar que, quando priorizamos a Palavra, o mandamento, em detrimento da tradição, aquela tradição que só impede de avançarmos, aquela que invalida o mandamento de Deus (Mt. 15:6; Mc. 7:9), acontece coisas:
1. A mão do Senhor se estende sobre nós (v. 21a);
2. Há conversões (v. 21b);
3. Com as conversões vem a fama, isto é, espalha-se a notícia, aquele trabalho ganha repercussão;
4. A graça de Deus se faz presente (v. 23);
5. Deus levanta lideranças capazes (vs. 22 e 25).
Foi graças à coragem destes desbravadores ciprios e cirenenses que, quebrando tradições que de nada contribuíam para o avanço do evangelho, que foi formada uma das mais conceituadas Igrejas do Novo Testamento, a Igreja de Antioquia. Foi em Antioquia que os crentes foram chamados pela primeira vez de cristãos (v.26), foi de Antioquia que Paulo e Barnabé foram enviados como Missionários e revolucionaram o mundo com a mensagem do Evangelho (At. 17:6). Tudo porque alguns irmãos, cujos nomes sequer foram citados no relato bíblico, resolveram por a autoridade da Palavra acima da tradição. Arriscaram suas vidas por entender que a Palavra de Deus não deve ser submissa à tradição, mas a tradição à Palavra.
Portanto, saiamos de detrás das velhas desculpas escoradas nas velhas tradições obsoletas, perdidas pela falta de razão de praticá-las. Paulo disse que a tradição dos homens é capaz de nos fazer de presas (Cl. 2:8).
Quantas Igrejas teimam em usar métodos ultrapassados de evangelismo, métodos que não chamam mais a atenção do pecador, tudo por causa de tradições que só aprisionam e limitam a ação do Evangelho.